Adelaide Cabete (25-01-1867/14-09-1935)

Adelaide de Jesus Damas Brazão nasceu na freguesia de santa Maria, de Alcáçova, concelho de Elvas, durante a Monarquia; assistiu e teve parte activa na defesa e na luta pela implantação da República, que viu nascer.
Sofreu com a falta de liberdade no período da Ditadura Militar e, em 1929, partiu para Angola ensaiando um novo começo. Teve uma vida singular e papel relevante aos mais diversos títulos, vindo a morrer repentinamente em pleno Estado Novo, na sua residência em Lisboa, vitimada por um ataque cardíaco.
A sua família contava-se entre as muitas do Alentejo profundo cujos magros proveitos não permitiam assegurar aos filhos uma educação primária que os excluísse do trabalho diário necessário ao sustento da casa.
Contudo, dotada de uma forte personalidade e carisma, o facto de ajudar na apanha da ameixa não a impediu de aprender, nem tão pouco de cantar. Apelidaram-na de mulher forte, como a sua própria compleição nos deixa ver e a obra legada nos faz constatar.
Intrépida pioneira republicana , feminista e maçona foi, com Carolina Beatriz Ângelo, das primeiras médicas a exercer a profissão em Lisboa. Surpreendentemente, ambas foram protagonistas de um papel de relevo, enquanto conspiradoras, pois as suas mãos criaram as primeiras bandeiras republicanas “verde-rubras” que a 5 de Outubro assinalariam a vitória da revolução.
O consultório funcionou também como ponto de apoio às múltiplas actividades de índole filantrópica, sendo ainda sede do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (1914-1947), do qual foi a mais destacada presidente. Fruto de uma vida intensa, enriquecida por experiências muito distintas, viajando além de fronteiras para representar Portugal em congressos internacionais, desde logo os seus horizontes se ampliaram a um ponto que a origem do seu nascimento, o seu género e a vida que levou na infância não fariam supor. Só muito tardiamente lhe foi possível sair do analfabetismo, mas a velocidade com que a partir daí conquistou etapas novas e cada vez mais difíceis marcou o seu percurso académico, pedagógico e científico. Amante da liberdade republicana, espelhou os valores apregoados e defendidos pelos círculos republicanos e socialistas em que participou.
Como mostra de reconhecimento e a título póstumo, recebeu a 10 de Junho de 1995 a Medalha e Colar de Grande Oficial da Ordem da Liberdade. A homenagem de que foi alvo espelha a Humanidade – seu lema de vida – e o amor à liberdade – a esteira que seus passos percorreram na demanda da justiça e da equidade.

Isabel Lousada

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