Liga Republicana das Mulheres Portuguesas

João Esteves

Surgida em Agosto de 1908, a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas foi a agremiação feminina mais relevante das primeiras duas décadas do século XX, tendo sido a organização que, em Portugal, procurou conciliar a intervenção política com reivindicações feministas, num momento histórico decisivo, por coincidir com o reforço do republicanismo e com o incremento da luta pela transformação da condição da mulher. Embora tenha resultado da iniciativa dos dirigentes republicanos António José de Almeida, Bernardino Machado e Magalhães Lima, cedo se revelou uma agremiação dotada de objectivos próprios e que funcionou, durante quase uma década, como o mais forte e estruturado grupo de pressão feminino, procurando proteger a criança e defender a mulher, sem descurar a acção cívica e política de defesa de uma sociedade democrática. Defendeu a revisão da legislação, com destaque para a aprovação da lei do divórcio e a alteração do Código Civil; pugnou pela criação de instituições que funcionassem como seus protectores; e apostou na difusão da instrução e educação sob novos moldes, que não apenas os religiosos. Batalhou ainda pela independência económica da mulher e pela conquista de direitos civis e políticos, centrando a luta, depois da implantação da República, em Outubro de 1910, na reivindicação do sufrágio, ainda que restrito, para o sexo feminino. Com alguma implantação nacional junto ao litoral, a força da sua actuação fez-se sentir predominantemente em Lisboa; manteve núcleos activos em Alhandra, Âncora, Benavente, Cantanhede, Lagos, Porto, Praia da Luz, Santo Estêvão, Setúbal, Tábua, Tomar, Viseu; e, no apogeu, chegou a contabilizar mais de mil sócias, provenientes de um pequeno núcleo burguês e urbano, relacionado com os sectores republicanos mais aguerridos e consciencializados. As dirigentes e dinamizadoras pertenciam a uma elite com estudos, sendo, na maioria, professoras do ensino livre, escritoras e domésticas, havendo também médicas, farmacêuticas, modistas e proprietárias. No entanto, a sua actuação foi constantemente limitada pelo periclitante equilíbrio entre as vertentes republicana e feminista, sobretudo após o derrube da Monarquia. Não se tratando de uma organização feminista típica, o que sobressai da LRMP é que percorre uma via própria, adequada à realidade portuguesa, e que só extemporaneamente foi permeável às influências externas, o que não obstou a que os seus ideais feministas fossem comuns aos das outras mulheres e que acompanhasse com fervor a actuação destas em todo o mundo. Manteve-se, apesar de várias cisões que a abalaram, e que estiveram na origem da Associação de Propaganda Feminista e da Associação Feminina de Propaganda Democrática, até 1919. A organização foi minuciosamente analisada no estudo de João Esteves publicado, em 1993, pelas Organizações Não Governamentais do Conselho Consultivo da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres.


Bibliografia
João Esteves, A Liga Republicana das Mulheres Portuguesas - uma organização política e feminista (1909-1919), ONG do Conselho Consultivo da CIDM, 1992.

In Dicionário no Feminino (sécs. XIX-XX), Lisboa, Livros Horizonte, 2005
Direcção: João Esteves e Zília Osório de Castro.

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